Monastérios, jardins e fábricas transformadas em museus fazem …

MUNIQUE – Em Munique, cidade que abriga a maior Oktoberfest do mundo, não há apenas flores nos jardins. Há mais de 200 anos, os biergärten, ou “jardins de cerveja”, fazem da cidade bávara um dos destinos mais populares em toda a Alemanha.

Criadas em 1812 a partir de um decreto de Maximiliano I, rei da Baviera, as áreas surgiram como alternativa para que os produtores da época pudessem manter as bebidas frescas sob castanheiras ao ar livre, durante os meses de verão na Alemanha. Desde então, centenas de pessoas compartilham as imensas mesas de madeira em parques exclusivos para apreciação da bebida.

Atualmente, a capital da Baviera abriga quase 200 parques do gênero que, administrados por restaurantes sob o nome de marcas alemãs de cerveja, são divididos em setores. Onde há toalhas sobre a mesa, são consumidos apenas produtos vendidos pelo estabelecimento; na área sem toalhas, o consumo de comida de fora é permitido, desde que se compre bebida no local.

Os jardins cervejeiros são uma espécie de parquinho de diversões para marmanjos dispostos a encarar canecas de, no mínimo, um litro, servidas com saladas, porco assado, frango grelhado e, claro, pretzels, o tradicional pão salgado alemão em forma de laço. Os mais populares da cidade são o Augustiner, em funcionamento desde 1812, conhecido pelas cervejas Edelstoff armazenadas em barris de madeira e com área para até cinco mil pessoas, e o Königlicher Hirschgarten, o maior da Baviera, com um jardim com capacidade para oito mil pessoas sentadas.

Para quem procura algo mais turístico, mas igualmente histórico, a opção é a Hofbräuhaus, cervejaria com mais de quatro séculos e um jardim interno, em pleno centro da cidade, capaz de receber até três mil pessoas. Conhecido pela produção da weisswurst, a tradicional linguiça branca alemão feita com carne de vitela e toucinho de porco, o local já foi frequentado por personagens históricos como Mozart, em 1780, e o líder revolucionário russo Vladimir Lênin, em 1913.

Quem busca dar ares mais técnicos a essa visita etílica à cidade pode fazer os tours guiados na Spaten, cervejaria em funcionamento em Munique há mais de 600 anos e uma das principais do país. O museu local empolga pouco, mas a degustação no alto de uma torre de quase 40 metros de altura faz o visitante alcançar níveis de visão nunca vistos anteriormente.

PEREGRINAÇÃO PARA PROVAR O TRABALHO DOS MONGES

A Bélgica está para o amante de cerveja como o a França e a Itália estão para os apreciadores de vinhos. Neste pequeno país europeu são produzidas 450 tipos de cervejas com diferentes modos de preparo que dão origem a produtos únicos como a tradicional lambic, cuja fermentação é feita por leveduras selvagens. São tantas as opções, na capital, Bruxelas, e no interior, que o melhor são os tours temáticos que passam por diversos destinos cervejeiros da Bélgica.

Uma boa maneira de começar a exploração é sair sem rumo de bar em bar por Bruxelas. Só para ter uma ideia do potencial etílico da capital belga, o Delirium Café é conhecido por abrigar, em um mesmo espaço, quase 2.500 diferentes marcas de cerveja de todo o mundo com opções de sabores que vão desde os tradicionais até as cervejas com notas de chocolate e… banana.

A quase 90 quilômetros da capital belga, às margens da reserva natural dos Altos Fagnes, a histórica Chimay abriga a abadia Notre-Dame de Scourmont, mosteiro de origem trapista cujos monges produzem queijos e cerveja desde 1862. Conhecida como Chimay Trappist, a bebida ganhou versões como a Red Cap, de tom cobre e leve aroma de damasco.

A rota segue até Dinant, onde se encontra a Maredsous Abbey, convento de 1872 que produz três diferentes tipos de cervejas (clara, escura e a cremosa triple, cujo teor alcoólico é de 10%).

Antes de voltar para Bruxelas, passe em Rochefort, onde a viagem sagrada (e etílica) termina na Notre-Dame de Saint-Rémy Abbey, local em que os monges produzem também licores e queijos deliciosos.

Atualmente, três empresas belgas organizam tours de cervejas que variam de meio dia a oito dias como as viagens até a Abadia de Chimay: a Scenic Tours, a Belgian Beer Tour e a Zephyr Adventures, que oferece um roteiro de degustação de cervejas em Bruxelas, Boullion, Mechelen, Ghent, Bougenhaut, Watou e Bruges.

Mesmo sem a tradição da vizinha Bélgica, a Holanda também merece atenção dos cervejeiros viajantes, muito graças ao Heineken Experience, um dos museus mais interessantes e interativos de toda a Europa. Uma das atrações mais visitadas de Amsterdã, a experiência acontece na antiga fábrica da gigante holandesa, uma das dez maiores cervejaria do mundo.

O passeio, autoguiado — há audioguias em diversas línguas, incluindo português — começa no interior das antigas salas erguidas pela família Heineken com objetos históricos da época como os frascos de vidro do primeiro laboratório dedicado às análises de cerveja, aberto por Adriaan Heineken. Ali o visitante fica sabendo que a companhia, que hoje produz 250 marcas diferentes, surgiu em 1864, como uma cervejaria familiar . A Heineken ficou conhecida por métodos como a baixa fermentação, que garantia uma bebida mais clara, e pela introdução de leveduras especiais como a Heineken A-Yeast, ainda no século XIX.

Em seguida, o visitante chega ao antigo salão de produção, que preserva os belos tonéis de cobre e vitrais, e onde se pode provar um pouco do mosto, o líquido açucarado prévio à fermentação que provoca reações curiosas entre os visitantes.

Tecnologia e interação se encontram nas salas multimídias da cervejaria. No cinema 4D que simula o processo de produção, o visitante, sobre uma plataforma móvel, se sente como se fosse um dos ingredientes do preparo de cerveja.

Na sequência, é possível também personalizar a própria garrafa e passar um tempo em uma área mais futurista, com mesas, cadeiras e poltronas, que se torna uma grande confraternização. Afinal, o tour termina justamente em um balcão, onde cada visitante tem direito a duas tulipas com a mais holandesa das cervejas.

ROTEIROS POR ALES E STOUTS

O Reino Unido, que tem nos pubs um de seus traços mais marcantes, não poderia ficar de fora de um roteiro cervejeiro. A região produz mais de duas mil variedades de cervejas.

Em Londres, um bom ponto de partida é a Fuller’s Griffin Brewery (fullers.co.uk), famosa por sua premiada ale. Os tours com 1h30m de duração acontecem das 11h às 15h, de segunda a sexta. Acompanham todo o processo de fabricação, da chegada da matéria-prima até a embalagem, e termina com uma sessão de degustação de cervejas, incluindo a London Pride que já foi descrita pelo especialista em cerveja Stephen Cox como “a sensação de ter anjos dançando na língua”.

Em funcionamento desde 1698 na cidade de Kent, a Shepherd Neame Brewery (shepherdneame.co.uk) é a cervejaria mais antiga da Grã-Bretanha e conta com diferentes tours (a partir de 12,50 libras por pessoa) que dão direito a uma refeição de seis pratos harmonizados com sete tipos de cervejas.

Para quem viaja com tempo, o Rail Ale Trails (railaletrail.com) é um conjunto de rotas ferroviárias que liga diversas microcervejarias de pequenas cidades entre Devon e Cornwall, no sudoeste do Reino Unido. Há seis diferentes rotas cênicas por regiões como o Tamar Valley e a Atlantic Coast Line, entre o Atlântico Norte e o Canal da Mancha.

Já na Irlanda, a visita à Guinness Storehouse (guinness- storehouse.com) é uma das atrações turísticas mais populares de Dublin. Os tours completos passam pelo edifício de sete andares, onde é possível ver o processo de preparo da stout mais famosa do mundo, conhecer a sala com projeções das premiadas campanhas publicitárias da marca e observar a capital irlandesa a partir do bar envidraçado do topo do edifício com vista panorâmica de 360° da capital irlandesa.

SERVIÇO

Augustiner: Diariamente, das 11h30m à meia-noite. Arnulfstrasse 52, Munique. augustinerkeller.de

Königlicher Hirschgarten: Diariamente, das 11h à meia-noite. Hirschgarten 1, Munique. hirschgarten.com

Hofbräuhaus: Diariamente, das 9h às 23h30m. Platzl 9, Munique. hofbraeuhaus.de

Cervejaria Spaten: Tours pela fábrica de segunda a quinta, das 10h às 14h. € 6 (com degustação). Marstrasse 46-48, Munique. spatenbeer.com

Delirium Café: Segunda a sábado, das 10h às 4h. Domingos, das 10h às 2h. Impasse de la Fidélité 4a, Bruxelas. deliriumcafe.be

Espace Chimay: Diariamente das 10h às 17h (fecha às segundas-feiras durante o inverno). Entrada: € 6,5 por pessoa (com degustação). Rue de Poteaupré 5b, Bourlers, Bélgica. espacechimay.com

Notícia postada originalmente pelo Jornal Extra

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