Em Dezembro deste ano a Baviera perderá os direitos que mantém sobre o livro de Adolf Hitler e será legalmente possível reimprimir a obra do Fuhrer. O original do livro para impressão está armazenado numa biblioteca obscura na Baviera, onde é mantido fora dos olhos do público por ser considerado perigoso. O historiador bibliotecário que os guarda, Florian Sepp, chama-lhe mesmo “textos tóxicos” e quer vê-los afastados do público “preguiçosamente curioso” e dos potenciais seguidores. Sepp quer garantir que a historia não se repita e por isso guarda os exemplares do Mein Kampf como de um vírus perigoso se tratasse.
Desde o fim da II Guerra Mundial, em 1944, que o Mein Kampf foi proibido na Alemanha e na Europa. Mas a proibição restringe-se à impressão e não à publicação. E é precisamente nestes tempos mundialmente conturbados que a controversa reimpressão de Mein Kampf vem outra vez polemizar o público. Florian Sepp é tão convicto acerca da perigosidade de Mein Kampf que mantém o primeiro exemplar dos escritos de Hitler numa sala de leitura de acesso limitado.
A reedição do Mein Kampf foi mantida proibida durante décadas pelo estado da Baviera, que é o proprietário dos direitos de autor alemão. Mas em Dezembro de 2015 expiram os direitos que se mantiveram cativos durante sessenta anos. A reimpressão está a reacender o debate à volta do anti-semitismo, a crise económica e o poder da escrita, porque a “Minha Luta” tornou-se num ícone mundial da violência nazi. O debate vai mais longe do que acerca de uma obra negra na história da Alemanha. Agora centra-se no papel do estado e no seu interesse em restaurar a obra para o público. Porque o “Mein Kampf” está a ser recuperado pelo Instituto de Historia Contemporânea (Institut für Zeitgeschichte München) que trabalha actualmente no projecto editorial do exemplar.
Sendo o Instituto financiado pelos contribuintes, os alemães têm-se questionado acerca da pertinência da produção e publicação da obra de Hitler. O Instituto justificou que não se trata de apenas uma brochura para o “aspirante a fascista”, mas uma reimpressão que será um instrumento académico virtual, um volume de 2.000 páginas acompanhado de crítica e análise do texto original”, referiu, Alexander Klotz do Instituto. Mas as criticas não esmorecem, quando a Europa está a enfrentar graves problemas de consciência religiosa e ideológica, estão a ser simultaneamente reeditadas em todo o mundo versões do livro em várias línguas.
Levi Salomon, do Fórum Judaico de Berlim comentou que este livro está fora da lógica humana e adiantou: “eu sou totalmente contra a publicação do Mein Kampf mesmo com anotações. Você pode anotar o diabo? Pode anotar uma pessoa como Hitler?“. Mas Magnus Brechtken, vice-presidente do Instituto, refere que compreende o incómodo mas salienta que do ponto de vista da investigação trata-se de “documentação histórica e educativa que iluminam a compreensão da época, exactamente para evitar as causas que criaram os eventos traumáticos”.
“Mein Kampf” foi escrito por Adolf Hitler durante a prisão na Baviera, detido depois de uma rebelião nazi falhada em 1923. E viu as primeiras publicações em 2 volumes, o primeiro em 1925 e o segundo em 1926, formando, juntos, um manual nazi. Adolf Hitler foi responsabilizado pela morte de 21 milhões de alemães, 7 milhões de judeus, 3 milhões de russos e 3 milhões de minorias como ciganos.