“O Bayern não é o Barcelona 2.0”, disse esta semana o extremo Arjen Robben. Uns dias antes tinha sido o antigo gigante do futebol alemão, Lothar Matthäus, a afirmar que o tiki-taka tinha chegado à Baviera. A discussão sobre o que Pep Guardiola está a mudar no Bayern Munique e na Bundesliga estava relançada. Por isso o i analisou os jogos dos campeões alemães na Bundesliga e Champions sob a batuta do treinador espanhol e comparou-os com o “seu” Barça (escolhemos a época 2010/11) e o Bayern 2012/13 orientado por Jupp Heynckes – as médias apresentadas são sempre dos primeiros 10 jogos da temporada entre campeonato e Liga dos Campeões.
Embora seja possível analisar apenas 10 jogos deste Bayern de Guardiola, alguns dados saltam à vista. A média de posse de bola é superior à de 2012/13, a equipa faz mais passes e remates e, em média, joga um pouco mais adiantada que a de Heynckes. Porém, com o técnico alemão os bávaros conseguiram a maior pontuação de sempre na Bundesliga (91), a maior diferença de golos (80), mais vitórias consecutivas (14) entre tantos outros recordes. Ou seja, nestes números, será quase impossível Guardiola melhorar. A dúvida que paira na mente dos adeptos é se, de facto, o estilo do novo Bayern será mais atractivo. Mas aqui a resposta parece simples: quem gosta do tiki-taka vai adorar a nova faceta bávara, quem detesta o estilo popularizado recentemente pelo Barcelona não vai morrer de amores pelo futebol dos campeões europeus.
É inegável que o jovem treinador, agora com 42 anos, mudou o futebol actual, tal como José Mourinho o fizera ainda antes do catalão entrar em cena, em 2008. O antigo capitão culé pegou no Barcelona, fez uma limpeza de balneário (hasta la vista Ronaldinho e Deco) e montou uma equipa que teve mais posse de bola que os adversários durante cinco anos – só recentemente, com Tata Martino, o Barça terminou um jogo em desvantagem nessa estatística. Mesmo as grandes equipas europeias não se chegam perto do futebol de Guardiola. Com Carlo Ancelotti, o Real Madrid tem uma média de 60% de posse de bola, o Chelsea de José Mourinho consegue apenas 55%. E se ambos chegaram aos clubes no início da temporada – portanto tiveram ainda pouco tempo para implementar as suas ideias -, Guardiola também só comanda o Bayern desde Junho. Mas a exibição na última jornada da Champions, em Manchester, contra o City, foi esclarecedora. Os bávaros dominaram a poderosa equipa de Pellegrini como se estivessem a jogar em Munique, conseguindo 21 remates (contra 9) e 66% de posse de bola (contra 34% dos ingleses, que em casa na Premier League têm média de 54%).
Escravos? Piqué afirmou que o “Barcelona era escravo do tiki-taka” durante a era Guardiola. Mas a passagem do catalão pelo banco valeu ao Barça duas Champions, duas Supertaças Europeias, dois Mundiais de clubes, três campeonatos espanhóis, duas Taças do Rei e três Supertaças. Comparando o Bayern com o Barcelona de 2010/11 (terceira época de Pep), os alemães têm menos a bola mas conseguem maior percentagem de passes no último terreno (34,4% contra 31%) e mais remates. Ou seja, o tiki-taka alemão parece mais objectivo, característica que muitos consideravam faltar ao Barcelona. No final da época se verá, mas este Bayern pode mesmo ser a versão melhorada, ou Barça 2.0, do primeiro projecto de Guardiola. É preciso não esquecer que o espanhol só tem quatro meses de trabalho na Baviera. Ao fim de dois ou três anos, terá a hegemonia do futebol europeu mudado para a Alemanha?
Ataque não chega A Liga portuguesa não disponibiliza estatísticas de 2013/14. Assim, fizemos as contas à posse de bola de FC Porto e Benfica nas 30 jornadas da época passada, e a conclusão é evidente: os dragões de Vítor Pereira têm quase mais 8% de posse que as águias, embora a equipa de Jorge Jesus jogasse mais declaradamente ao ataque e tenha feito mais golos (77 contra 70). Mas o título acabou no Dragão e estes números podem ser parte da explicação.