Ponto alto da cpula na Baviera o compromisso com o fim da era do petrleo ainda neste sculo. Claro sinal conferncia do clima em Paris bem recebido por ambientalistas.
Os problemas do mundo resumidos em 21 pginas: essa a impresso que deixa a declarao final do encontro das sete principais potncias industriais do Ocidente no Castelo Elmau, nos Alpes Bvaros, encerrado nesta segunda-feira (08/06). A gama temtica do documento abarca desde a situao da economia mundial at a luta contra o terrorismo internacional, passando pela cooperao para o desenvolvimento, a crise na Ucrnia e a mudana climtica global.

No tocante a este ponto, a anfitri da conferncia de cpula, a chanceler federal alem, Angela Merkel, conseguiu arrancar dos participantes um comprometimento explcito com a assim chamada “meta dos 2 graus”.

Os pases do G7 se comprometeram a encerrar a era dos combustveis fsseis ainda neste sculo, a fim de limitar o aquecimento do clima terrestre a um mximo de dois graus centgrados em relao poca pr-industrial. Essa meta j fora decidida na cpula do clima de 2009, em Copenhague, mas a implementao anda devagar.

Agora as grandes naes industriais se dispem a dar o bom exemplo, tambm para promover o sucesso da Conferncia do Clima de Paris, em dezembro, onde, depois de numerosas tentativas frustradas, pretende-se aprovar um novo acordo climtico mundial.

Na coletiva de imprensa na Baviera, Merkel disse estar claro que, para isso, sero necessrios cortes profundos nas emisses de gases estufa em todo o mundo, “E por isso nos comprometemos a uma descarbonizao da economia mundial no decorrer deste sculo.”

Para tal, sero tomadas como base as recomendaes do Painel Intergovernamental sobre Mudanas Climticas (IPCC), que prescrevem uma reduo das emisses entre 40% e 70% at 2050, em relao a 2010. “E ns precisamos nos mover nas percentagens mais altas dessas recomendaes”, ressaltou a chefe de governo da Alemanha.

Otimismo de ambientalistas

Essa posio surpreendentemente clara foi saudada por organizaes ambientalistas. O WWF falou de “bons ventos para o debate climtico”; a Oxfam, de “um passo adiante”.

Tambm Christoph Bals, da Germanwatch, que h muitos anos acompanha as negociaes para um novo acordo climtico, manifestou otimismo. “Em resumo, isso significa que o G7 colocou o abandono das energias de origem fssil na agenda global. Isso vai codeterminar de forma decisiva as negociaes sobre o tratado do clima de Paris.”

Obviamente que o documento de Elmau apenas uma declarao de intenes: o teste de credibilidade vir a seguir. “Para a Sra. Merkel, ele vem j nos prximos dias, quando se tratar de elaborar as resolues para reduzir sensivelmente o uso do carvo na Alemanha”, observa Bals. Para os demais lderes, o teste vir no mais tardar durante as prximas negociaes climticas. “Mas [a declarao] um bom ponto de partida.”

Padres sociais globais no trabalho

A chanceler alem procurou emitir um sinal tambm eloquente em relao a um outro tema, ao insistir em que se adotem padres sociais de validade global nas cadeias de fornecimento de bens e mercadorias. Como declarara j antes da cpula, trata-se de uma questo de responsabilidade, j que, includo o comrcio interno europeu, os pases do G7 representam a metade do comrcio mundial.

“Todos ns temos diante dos olhos as terrveis imagens do Rana Plaza, em Bangladesh”, disse Merkel, referindo-se ao desmoronamento de um edifcio comercial que matou mais de mil pessoas e feriu 2 mil, em maio de 2013. Ela se declarou feliz por terem sido “finalmente” liberados 30 milhes de dlares para os familiares da vtimas, em colaborao com a Organizao Internacional do Trabalho (OIT).

Alm disso, o G7 anunciou a criao do Vision Zero Fonds, que apoiar quem se prontificar a respeitar determinados padres sociais. Nesse ponto, crticos como Jrn Kalinski, da Oxfam, condenam a falta de vinculatividade.

“No tivemos experincias muito boas com iniciativas que dependem da livre vontade do empresariado”, afirmou. Por isso necessrio que haja uma regulamentao legal a longo prazo. “No no sentido do estrangulamento, como se costuma interpretar erradamente, mas no sentido de um quadro bsico, criando condies iguais para todas as empresas.”

Pouco tempo para os “viles”

O G7 de que a Rssia j fez parte tambm enviou um claro sinal de coeso em direo a Moscou: caso seja necessrio, h disposio para endurecer as sanes motivadas pela crise na Ucrnia. Uma eventual suspenso est vinculada aplicao do Acordo de Minsk. De resto, segundo Merkel, no se falou mais sobre a Rssia do que sobre outros focos de conflito.

Tambm sobre o impasse entre o governo da Grcia e seus credores Fundo Monetrio Internacional (FMI), Banco Central Europeu e Comisso Europeia no se discutiu muito no Castelo Elmau. Durante a coletiva de imprensa ao fim da cpula de dois dias, Merkel se limitou a enfatizar que o prazo para um acerto entre Atenas e os credores internacionais est se esgotando.

A prxima data para uma conversa com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ser esta quarta-feira, margem da conferncia de cpula entre a Unio Europeia e a Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos) em Bruxelas. A espera-se que o chefe de governo traga novas sugestes sobre como resolver a crise da dvida de seu pas.

Autor: Henrik Bhme, de Elmau (av)Edio: Alexandre Schossler