Já Pedro Santana Lopes, que viveu e estudou na Alemanha, recorda que a Baviera tem sempre muita força. “É muito difícil haver uma ruptura e uma oposição da CSU à CDU. Tem que haver acordo ali. E o acordo pode custar caro à senhora Merkel”, numa referência a obstáculos adicionais para a governação da chanceler alemã. “A CSU é sempre mais exigente, mais dura, tendencialmente autoritária nas suas posições. Obviamente pode ter consequência políticas internas”, acrescenta Santana Lopes no debate europeu da “Edição da Noite” da Renascença.
António Vitorino diz que a Baviera não tem sabido responder com soluções viáveis para este problema.
“Merkel tem condições para resistir à pressão bávara. O líder bávaro é mais vocal do que tem instrumentos para actuar. A resposta da chancelaria é: ‘Diga lá como resolvemos o problema’. Isto não é fácil, não há uma varinha mágica. É muito fácil estar numa posição de protesto e de queixa como os bávaros. É até compreensível porque são eles a primeira porta de entrada. Até este momento ainda não disse nada sobre como se resolve o problema das pessoas que estão a chegar e têm que ser alojadas”, reforça o antigo ministro socialista na Renascença.
A pressão que chega da Áustria
O incómodo chegou à Baviera devido à entrada de refugiados a partir da Áustria. António Vitorino diz que o que está em causa é a aplicação de uma “lógica que empurra os problemas para os vizinhos”.
O antigo comissário europeu diz que os alemães “queixam-se provavelmente com razão de que os austríacos estão a organizar deslocações nocturnas, sem aviso prévio, dos 10 mil refugiados diários provenientes da Eslovénia que deixam na fronteira alemã. Os alemães nem sequer têm aviso prévio para prepararem devidamente a recepção desses 10 mil refugiados”.
Santana Lopes admite que as consequências políticas da crise dos refugiados começam agora a surgir. “Estas bolsas de agitação em territórios onde isso seria impensável aqui há tempos, nomeadamente na Baviera”, diz o antigo primeiro-ministro. E prossegue: “O processo dos refugiados parece ter tido uma suspensão mediática mas os fluxos continuam. A ordem não surge e vai demorar tempo a surgir. Os incómodos e as perturbações causadas nas ordens sociais vão ser maiores. As respostas das autoridades não estão a ser rápidas”.
Cumprir o que se prometeu
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, tem criticado os estados-membros da União Europeia que não enviam guardas de fronteira nem cumprem promessas financeiras para a gestão da crise dos refugiados.
António Vitorino dá razão ao luxemburguês que lidera o executivo comunitário. “Tudo o que foi acordado pelo Conselho Europeu e agora pela Cimeira dos Balcãs exige a mobilização de guardas de fronteira e de meios logísticos e operacionais de protecção civil de uma grande dimensão. Exige mobilizar muito dinheiro. O dinheiro que está em cima da mesa não chega. Tenho uma ideia dos números mas nem me atrevo a dizê-los. Mesmo o dinheiro que se está em cima da mesa não foi sequer realizado, não foi mobilizado. É disso que Juncker se queixa”, diz o antigo comissário europeu no programa “Fora da Caixa”.